No dia 19 de julho de 2008, aquela que parecia imortal acabou sendo vencida por uma forte pneumonia. Aos 101 anos de idade, Dercy Gonçalves encerrou seu principal espetáculo: a vida. Neste domingo, o Brasil completará um ano sem a comediante.
Pensar num símbolo de irreverência e alto astral é pensar em Dercy. Há outros pouquíssimos exemplos tão contagiantes quanto ela. Mostrar os seios em horário nobre da TV aberta, falar palavrões como se fossem adjetivos banais da nossa língua e dizer absolutamente tudo o que se pensa eram coisas típicas deste ícone brasileiro. Porém, eram apenas pequenas demonstrações de suas conquistas no cenário artístico. Um ano após sua morte, seu público continua órfão de tanta vitalidade.
Não é apenas pelo bom humor e personalidade engraçada que ela deve ser lembrada. A atriz e comediante é símbolo de uma época, de uma transição de conceitos. Poucas pessoas têm a sorte de viver um século e trilhar uma história tão repleta de coragem e transgressão. Não é à toa que a atriz Fafy Siqueira, sua grande admiradora e amiga, classifica Dercy como uma "Deusa Maior".
"Nunca, neste país, existiu uma artista como Dercy Gonçalves. E nunca mais vai existir. Ela é única pelo seu talento e pela sua coragem de abrir as portas num passado tão preconceituoso, para que nós as atrizes do século 21 pudéssemos ter a liberdade que temos agora de fazer nosso trabalho com dignidade", declarou, sem poupar elogios.
Junto com Marília Pêra e Maria Adelaide Amaral, Fafy quer mostrar no teatro a Dercy que a geração de hoje não conheceu.
Até seu último momento em vida, Dercy Gonçalves não descansou. Um pouco antes de morrer, ela tentava superar mais uma barreira. Desta vez um recorde. Em uma espécie de pocket show, ela divertia a platéia falando sobre sua vida para conseguir entrar no "Guiness Book", o livro dos recordes, como a mais antiga atriz brasileira lúcida e ainda na ativa.
Entre suas inúmeras polêmicas, Dercy proferiu a seguinte frase: "Não tenho medo de morrer. Eu não vou morrer, eu vou desaparecer".
Trajetória
Batizada de Dolores Costa Bastos, a artista sempre almejou a fama. Aos 17 anos, ela fugiu de casa para lutar pelo seu sonho. Em 1927, mudou seu nome para Dercy Gonçalves, começou a carreira como cantora, mas logo começou a atuar no teatro de revista, em 1929.
Em 1943, seu talento vai para as telonas dos cinemas. A atriz estreou no filme "Samba em Berlim". Este foi o primeiro de 30 filmes. Sua última participação cinematográfica foi no longa "Nossa Vida Não Cabe Num Opala", lançado no Brasil em 2008.
Na década de 60, fez sucesso na Rede Globo com os humorísticos escritos especialmente para ela, como "Dercy Comédias", "Dercy Espetacular" e "Dercy de Verdade".
Perto do início dos anos 1970, a comediante fez uma pausa de dez anos na televisão. Depois deste período, ela atuou em novelas na Rede Bandeirantes e na Rede Record. Voltou para emissora carioca em 1989, em "Que Rei Sou Eu", quando o autor Cássio Gabus Mendes escreveu uma personagem feita sob medida para atriz.
Depois de outras participações na Globo, Dercy assinou um contrato vitalício com o SBT, em 2000. Um ano depois, a artista fazia seu último personagem na televisão, em um quadro da "Praça é Nossa".
Últimas Palavras
Dercy Gonçalves deu entrada no Hospital São Lucas (RJ), na madrugada do sábado, de 19 de julho de 2008, devido uma forte pneumonia. Quem estava perto garante que atriz não poupou palavrões em sua chegada. Doze horas depois, após ter insuficiência respiratória, a desbocada e bem humorada calou-se para sempre.
O corpo da artista foi enterrado em sua cidade natal, Santa Maria Madalena, no Rio de Janeiro. Assim como era seu desejo, a estrela foi enterrada em pé, ao som da música "Bravo, Bravíssimo - Dercy, um Retrato de um Povo", samba-enredo da Viradouro. Antes, tocaram o Hino Nacional Brasileiro e Dercy Gonçalves recebeu seu último aplauso.
Especial: 1 ano sem Dercy Gonçalves
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