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"A Globo não me deixa fazer adaptações", diz Manoel Carlos

Há tempos as tramas inspiradas ou adaptadas de clássicos da literatura eram quase sempre garantia de êxito nas histórias. Atualmente, obras de grandes autores da literatura nacional e internacional podem sustentar, pelo menos, o esqueleto de uma boa história, com argumentos e personagens que trazem credibilidade a tramas bem estruturadas.Um exemplo disso é a minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho, adaptada do clássico de Machado de Assis, Dom Casmurro, que estréia até novembro na Globo.

Mas nem sempre textos reconhecidos são sinônimo de boa audiência. Enquanto um caldeirão de mutantes chama a atenção na Record, por exemplo, a Globo pena com a insatisfatória audiência de Ciranda de Pedra. A novela de Alcides Nogueira, adaptada do livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, é um exemplo de qualidade dramatúrgica que passa despercebida, quase que empoeirada em seus cenários de época.

"Falo sobre relações muito delicadas, o universo duro e visceral da Lygia. É prazeroso levar uma obra literária a milhões de telespectadores", consola-se Alcides.

Manoel Carlos, que adaptou a novela A Sucessora, em 1978 - do romance homônimo de Carolina Nabuco - , é um dos primeiros autores a defender os clássicos da literatura na TV. O autor, que estréia a minissérie Maysa em janeiro de 2009, afirma que, após 30 anos, sonha em novamente reescrever o romance para a TV.

"Mas a Globo não me deixa fazer adaptações! É uma pena! Nossa TV precisa muito disso", avalia o autor. Segundo consta, depois da adaptação da minissérie Presença de Anita, do livro homônimo de Mário Donato, a emissora não permite que Manoel Carlos faça adaptações por ser um dos raros autores a assinar roteiros com credibilidade.

Já na Record, o panorama é outro. Essa atual fase bem-sucedida da emissora se iniciou com duas adaptações literárias: A Escrava Isaura, transposta em 2004 do romance de Bernardo Guimarães por Tiago Santiago, e Essas Mulheres, de 2005. Assinada por Marcílio Moraes, a trama foi inspirada nos clássicos Senhora, Diva e Lucíola de José de Alencar.

"Tenho projetos para outras adaptações literárias, com textos de Shakespeare, Aluísio Azevedo, Dostoiévski, Goethe e José de Alencar", entrega Marcílio.

Mas nem sempre as tramas moldadas na literatura são de época. Recentemente, Maria Adelaide Amaral adaptou seu romance Aos Meus Amigos para a TV com a minissérie Queridos Amigos. "No início, não me dei conta de que estava, pela primeira vez, fazendo um trabalho exclusivamente meu para a televisão", lembra a autora.

Jorge Amado, por exemplo, foi um dos autores com tramas contemporâneas mais roteirizados na TV, com obras como Mar Morto, que inspirou a novela Porto dos Milagres, ou mesmo Tieta, ambas assinadas por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares.

"Os personagens de Jorge são sempre humanos, pitorescos e contraditórios. O nome dele é uma grife. O grande problema da literatura é que ela não tem fôlego para segurar 200 capítulos na TV", constata Ricardo Linhares.

O que também costuma tirar o fôlego de alguns autores é utilizar obras de escritores vivos. Ana Maria Moretzsohn, por exemplo, adaptou Serras Azuis na Band, há exatos 10 anos, e temeu as críticas do autor do romance, Geraldo França de Lima, ainda vivo nesta época. "Acaba sendo complicado porque queremos agradar o autor", explica Ana.

Gilberto Braga, por sua vez, fez história com algumas de suas adaptações. Para implantar o horário das seis em novelas, a Globo pediu que o autor se inspirasse nas tramas Helena, de Machado de Assis, e Senhora, de José de Alencar. A primeira se transformou numa mininovela de 20 capítulos em 1975 e estreou a faixa das seis da emissora.

Senhora, por sua vez, foi ao ar no mesmo ano, na seqüência. "Dias Gomes dizia que só havia desvantagens em adaptações. Se ficasse bom, o mérito seria do autor. Se fosse um desastre, a culpa seria do adaptador", diverte-se Gilberto Braga.

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